Entendendo e lidando com as
Disfunções Sexuais Masculinas

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11) define as disfunções sexuais como um grupo de transtornos que afetam a capacidade do indivíduo de acessar todas as etapas da resposta sexual e/ou de experimentar prazer sexual. Os transtornos sexuais em homens incluem disfunções na fase do desejo, da excitação e do orgasmo. 

As disfunções sexuais masculinas podem ter um impacto negativo significativo na vida dos homens, levando a sentimentos de inadequação, evitação do contato sexual em pares, ansiedade de desempenho sexual, bem como a uma diminuição da percepção de qualidade de vida de modo geral. Além disso, as disfunções sexuais podem afetar os relacionamentos, levando a problemas de comunicação e distanciamento emocional. (FLEURY et al., 2020) Por isto, neste artigo, vamos explorar as disfunções sexuais masculinas, suas causas e como lidar com elas. 

As Diferentes Disfunções Sexuais Masculinas

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) as disfunções sexuais masculinas incluem ejaculação retardada, transtorno erétil, transtorno do desejo sexual masculino hipoativo, ejaculação prematura (precoce), disfunção sexual induzida por substância/medicamento, outra disfunção sexual especificada e disfunção sexual não especificada. Um mesmo indivíduo poderá ter várias disfunções sexuais ao mesmo tempo, então para o melhor entendimento e tratamento, nós, profissionais da saúde mental e sexual, as classificamos em subtipos, são eles:

  1. Em relação ao tempo: se o problema sexual está presente desde as primeiras experiências sexuais ou se desenvolve após um período de função sexual relativamente normal.
  2. Em relação à ocorrência: se os problemas sexuais se limitam a certos tipos de estimulação, situações ou parceiros, ou se ocorrem em todas as experiências sexuais, de forma generalizada.

Além dos subtipos, inúmeros fatores devem ser considerados durante a avaliação de uma disfunção sexual, como fatores relacionados ao parceiro (p. ex., problemas sexuais; estado de saúde); ao relacionamento (p. ex., dificuldade de comunicação; discrepâncias no desejo para atividade sexual); a vulnerabilidade individual (p. ex., pensamentos relacionados a má imagem corporal; história de abuso sexual ou emocional), quadros psiquiátricos (p. ex., depressão, ansiedade) ou estressores (p. ex., perda de emprego, luto); fatores culturais ou religiosos (inibições relacionadas a proibições de atividade sexual ou prazer; atitudes em relação à sexualidade); e outros fatores médicos relevantes.

Quais são as causas das disfunções sexuais masculinas?

De modo geral, as disfunções sexuais podem ser causadas e mantidas por diversos fatores, como:

    1. Aspectos psicológicos: tabus sobre a própria sexualidade, baixa autoestima, fobias relacionadas ao ato sexual e não aceitação da própria orientação sexual, entre outros.
    2. Dificuldades nos relacionamentos: brigas, desentendimentos, falta de intimidade e dificuldades de comunicação entre os parceiros.
    3. Questões decorrentes de traumas: devido a violências.
    4. Condição geral de saúde: presença de disfunção sexual decorrente dos efeitos diretos de uma doença, como depressão, ansiedade e doenças crônico-degenerativas graves, diabete, entre outras.
    5. Efeitos diretos de uma substância: medicamentos, álcool, drogas e exposição a toxinas, entre outros.

Como identificar que preciso de ajuda?

A percepção de uma possível disfunção sexual pode variar de pessoa para pessoa, mas existem alguns sinais e sintomas comuns que podem indicar a presença de um problema. Para uma autopercepção, podemos estar atentos a ocorrência recorrente da ejaculação antes do momento desejado, a dificuldade ou incapacidade em atingir o orgasmo, ou ainda, a dificuldade em obter ou manter uma ereção. É importante ressaltar que falhas eventuais são comuns a qualquer pessoa com pênis, mas se essa dificuldade é recorrente, pode ser um sinal de disfunção erétil.

O baixo desejo sexual, a evitação de situações sexuais e estar constantemente preocupado com o seu desempenho sexual ou experimentando ansiedade, ou estresse significativos em relação à atividade sexual, podem ser um sinal de uma disfunção sexual.

Como a psicoterapia sexual atua nestes casos?

A aplicação da terapia cognitiva comportamental na área sexual é uma abordagem terapêutica breve que tem se mostrado eficaz no tratamento de diversas disfunções sexuais. Essa forma de terapia combina técnicas da terapia cognitiva, que se concentram nos pensamentos e crenças, e na mudança de padrões comportamentais na vivência da sexualidade, com intervenções específicas para questões sexuais.

Durante a terapia cognitiva sexual, o terapeuta trabalha em colaboração com o paciente para o tratamento das disfunções sexuais psicogênicas – com causa psicológica- atuando em seu sistema de crenças e na reformulação de seus comportamentos sexuais. O foco das abordagens cognitivas está na reestruturação dos pensamentos acerca da sexualidade,  já que as causas do problema podem estar enraizadas em experiências passadas ou influências culturais que reforçam ideias falsas sobre a sexualidade masculina.  

Já as técnicas comportamentais permitem a eliminação de hábitos sexuais disfuncionais e construção de hábitos sexuais e apropriados a uma relação sexual satisfatória. Em sexologia clínica, após feito o diagnóstico, existem técnicas específicas para o tratamento de cada uma das disfunções aqui mencionadas, por isso, é importante salientar que a terapia sexual, que se concentra especificamente nas questões sexuais, e a terapia de casais, que pode ajudar os parceiros a desenvolver uma maior intimidade emocional e melhorar sua comunicação sexual, são fortes aliadas no tratamento de queixas sexuais e desordens relacionais.

Se você está enfrentando problemas sexuais, não hesite em procurar ajuda. A terapia sexual pode ajudar a tratar questões importantes e melhorar sua qualidade de vida. Lembre-se de que é importante escolher um terapeuta de confiança e que você se sinta à vontade para falar sobre suas dificuldades sexuais. Com a ajuda certa, é possível superar esses desafios e ter uma vida sexual saudável e satisfatória.

Referência bibliográfica:
FLEURY; H.; ABDO; C. O efeito da prática mindfulness na satisfação sexual e conjugal. Diagn. tratamento ; 24(4): [170-173], out – dez. 2019
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Psicologia, Relacionamento e Sexualidade

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